Ao longo de boa parte da minha vida eu lutei contra meu peso, em busca sempre do corpo ideal, e sempre ignorando minha saúde. Fui mãe aos 19 anos, e o pós parto foi uma grande loucura de hormônios, mudanças, medos, e frustrações. Em meio a tantas reviravoltas a comida se tornou minha melhor amiga, era a onde eu recorria nos momentos de angústia.
A compulsão alimentar começou a me acompanhar a partir daquele momento, cheguei a comer uma pizza de 16 fatias sozinha, e quando a culpa vinha forçava vômito. Entretanto eu me negava a encarar a realidade, não conseguia perceber que aquele comportamento me deixava doente. E a bariátrica foi a salvação!
Quero frisar aqui: O CORPO GORDO NÃO ME INCOMODAVA!
Eu me amava, me sentia bonita, sexy, com altos e baixos como todo mundo, mas meu peso não me impedia de me amar. Porém o meu peso em conjunto com os meus hábitos alimentares estava me matando.
Quando decidi fazer a bariátrica:
Na metade de 2020 eu pesava em torno de 109 kg. Dormir era algo quase impossível, devido a piora drástica na apneia ( doença que faz parar os movimentos respiratórios enquanto dorme), caminhar era uma situação extremamente cansativa; andar um quarteirão as vezes era o mesmo que correr uma maratona; o quadril começou a doer e tiveram dias que meu joelho estava não inchado que pisar no chão doía, e dobrar a perna era impossível. Entretanto, mesmo com tudo isso eu me negava a acreditar que o problema era meu peso, eu estava feliz, eu gostava de mim, eu me sentia bem.
Por causa de uma situação que balançou minha vida pessoal, tive uma queda imensa na minha autoestima, parei de ter o mínimo de vaidade e passei meses sem me olhar no espelho. Por vezes me negava inclusive a tirar fotos, e sair de casa. Todas as vezes que eu me sentia acuada, ou que aquela situação ruim voltava eu procurava refúgio naquilo que era cômodo, a comida!
Em dezembro de 2020 eu cheguei ao ápice: 124,8 kg
Minha mãe, que a muito já me cobrava de perder peso, pelos problemas que eu vinha tendo, falou comigo sobre a cirurgia bariátrica; a primeiro momento vi como bobeira, para mim eu não tinha IMC suficiente, e de tanto ela insistir comecei a ponderar a ideia. A princípio comecei a estudar sobre a cirurgia, as técnicas, os riscos, e marquei uma consulta com um cirurgião da minha cidade para tirar as dúvidas.
Ao contrário do que eu pensava, meu IMC era mais que suficiente para a bariátrica, em conjunto com todas as minhas comorbidades. Sempre que eu parava pra analisar minha situação passava pela minha cabeça que eu estava sobrepeso, no máximo obesa; todavia encarar aquela situação nua e crua fez com que eu abrisse os olhos.
Eu estava com obesidade grau II, um IMC de 44, gordura hepática, ovários policísticos, apneia, dores no joelho e quadril. Tive que encarar o fato, tarefas simples do dia a dia não eram mais tão simples, eu não abaixava, caminhar era impossível, tomar banho era uma tarefa complicada; mas o que principalmente me fez dar o start e decidir mudar de vida foi não poder brincar com meu filho.
Sai daquele consultório decidida a operar, porque eu precisava de qualidade de vida.
Quanto tempo levou até a operação?
Primeiramente, tudo é um processo, e cada pessoa tem seu tempo, minha consulta foi em 18/12/2020 com o primeiro cirurgião que pedi opinião. Passei por várias etapas antes de chegar no tão esperado dia, mas eu tinha ciência de chegar nele eu precisava estar bem mentalmente. O primeiro passo foi começar o acompanhamento psicoterápico voltado para a minha compulsão, tratar o problema na raiz, descobrir o que trazia a tona a “fome” insaciável, e lidar com meus problemas e frustrações de outra forma, sem ser com a comida.
O segundo passo desse processo foi entrar em contato com uma nutricionista , e reeducar meus hábitos, o caminho não foi fácil, me adaptar a um cardápio que não era “bonito e gostoso” era difícil, porque convenhamos, entre um iogurte com chia e um milk-shake a escolha é fácil.
Foi a partir desse momento que comecei a buscar maneiras de transformar aquela alimentação nutritiva em saudável em algo mais gostoso; algo que me remetesse a “comida que dá prazer”, e comecei buscar receitas saudáveis daquilo que eu gostava de comer. Essa foi definitivamente a melhor escolha que eu fiz naquele momento, meu acompanhamento nutricional começou em abril de 2021, encontrei um e-book com receitas que me ajudaram muito em torno de dois meses depois, e a partir daquele momento, em conjunto com a terapia, consegui reeducar meus hábitos alimentares, e controlar minha compulsão.
A sua equipe médica tem que ser seu porto seguro!
De antemão já deixo claro, a minha não era, tive divergências com o primeiro cirurgião que eu conversei; e ai entra a necessidade de estudar muito sobre o processo da bariátrica, os prós e contras de cada técnica. Você precisa saber o que será feito em você, e devido a essas divergências procurei outra equipe. Desde o primeiro atendimento o Dr Rodrigo Hoer já me deixou extremamente confiante, a técnica indicada por ele era a que eu também acreditava ser a mais coerente com meu caso, passei mais de 2h no consultório dele tirando todas as dúvidas, e ele foi ainda mais realista comigo sobre a decisão que eu estava tomando, me explicando todos os pormenores.
Após tudo isso eu tive que correr atrás dos laudos, para a realização da bariátrica é necessário que alguns pré-requisitos sejam cumpridos como:
- IMC acima de 39
- Não ter transtornos alimentares
- Tentativa de emagrecimento prévio
- Quadro de obesidade a pelo menos 2 anos
- Não ser alcoólatra
- Não ter quadro de demência ou doenças psicóticas
Além de aval de vários especialistas como cardiologista, anestesista, nutricionista, pneumologista, psicóloga, para que o cirurgião tenha a certeza de que o seu procedimento será “perfeito”.
Todo esse processo, de reeducação alimentar, controle da compulsão, mudança de hábitos, realização de exames e consultas durou 11 meses. Mas antes de tudo deixo claro que esse foi o MEU tempo, ele pode ser maior ou menor, eu operei apenas quando me senti segura para isso, e recomendo que façam o mesmo. A pressa é inimiga da perfeição, e se você não mudar por dentro, a mudança por fora não irá ocorrer como você espera.
Qual técnica eu fiz?
Primeiramente, apesar de eu ter uma ideia de qual técnica eu gostaria de fazer, essa decisão cabe ao meu cirurgião. Ele decidiu que devido ao fato de eu ter gastrite e refluxo a melhor técnica para mim seria o ByPass em Y de Roux, que basicamente é a redução do estomago, é feita uma nova ligação do intestino nesse estomago reduzido e feito um desvio da parte cortada par que não tenha deficiência de nutrientes
A cirurgia é feita por videolaparoscopia, demora em torno de 1h , eu entrei para o centro cirúrgico as 7h da manhã, foi super tranquilo, recebi duas anestesias a raquidiana ( aplicada na coluna) e a geral, apesar de que a raquidiana tem fama de ser dolorida eu não senti nada, a equipe foi muito boa, me acalmou, e o anestesista me sedou antes de aplicar as anestesias, e após isso só acordei na sala de recuperação.
Acordei com bastante dor, e meio perdida, e já fui levada pro meu quarto e fui medicada; passei 24h deitada com bota pneumática (para evitar trombose) , e em jejum total (inclusive de água) , tive muito enjoo, porém as primeiras 24h foram tranquilas.
Tive alta com menos de 48h de internação, no segundo dia eu me ingeri apenas água, e já comecei a fisioterapia. É muito importante se movimentar para evitar problemas de gases e trombose; senti um pouco de dor no segundo dia, acredito que por toda a movimentação, mas apesar disso consegui tomar banho sozinha, sentar, e caminhar bastante pra ter alta rápido.
Como foram os primeiros 30 dias?
Eu poderia dizer que foram maravilhosos? Poderia, mas estaria mentindo!
A principio a dieta liquida foi tranquila, não conseguia (e até hoje não consigo) cumprir as quantidades, era bem difícil tomar os caldos salgados, e água não descia bem, as únicas coisas que eu tomava bem eram Gatorade de laranja/tangerina, água de coco, e gelatina.
Nos primeiros 15 dias da dieta liquida eu consegui eliminar 14kg, e isso me deixava muito empolgada, apesar disso o emocional vivia em turbilhão. A comida é algo além de alimentação apenas, e para alguém que tinha compulsão alimentar e vício em comer perder esse prazer é duro. Ou seja , choros, rompantes de raiva, e vontade de desistir eram frequentes, a sua rede de apoio precisa ser forte por você.
“O caminho fácil não é nada fácil.
A dieta líquida mexe com o emocional, com o psicológico, nos deixa fracos e cansados , ansiando pela próxima fase.
Mas não se engane achando que ela será mais fácil, a dieta pastosa foi terrível, tão ruim que voltei pra liquida. Meu estomago não conseguiu se adaptar a comida “sólida” novamente, eu vomitava sempre que tentava comer, eu ansiava por conseguir beber água com grandes goles, e por mastigar, e me perguntava frequentemente:
“Existe vida normal depois da bariátrica?”
Quero deixar claro antes de tudo, que sim existe! Mas isso demanda tempo, e ter paciência é a chave pra que as coisas se encaixem e a engrenagem funcione, regredir as vezes é necessário, e conversar com sua equipe para descobrir o que funciona para o seu organismo é essencial. A minha bariátrica não vai ser igual a sua!
A regressão para a dieta liquida e semi-pastosa foi o que me salvou, eu continuei nos sucos, Gatorade, e muita água de coco por mais 14 dias, e ao longo desses dias eu tentava comer mas o resultado era passar mal.
Quem não aguenta o processo não vive o propósito, e a bariátrica não é fácil, o psicológico tem que estar muito forte, ou você definha. Você por muitas vezes terá que se obrigar a comer, sem fome, e sem vontade, para se manter viva. É mais fácil não comer, é mais fácil viver de líquidos, ou correr pro hospital e tomar soro, é muito mais fácil, porém, forçar a comida é parte do processo.
Você esta se descobrindo de novo, reaprendendo como um bebê, e muita coisa que antes de fazia bem agora não faz mal.
O processo de descoberta faz parte, e aos poucos as coisas vão se encaixando, aos poucos você volta a ter prazer ao se alimentar.
E a bariátrica é uma ajuda, não é milagre.
Quanto peso perdi em 2 meses?
Primeiramente, o meu processo é diferente do seu, e não quer dizer que porque eu perdi esse peso que você também tem que perder.
Nos primeiros 10 dias após a cirurgia eu eliminei 5,7kg , e a diferença já era visível, como me mantive mais tempo na dieta liquida o nosso corpo entra no que chamamos de platô, ele entende que estou em falência e começa a reter tudo, então paramos de emagrecer. Foi o que aconteceu quando completei 23 dias, eu havia eliminado 17 kg , e não emagrecia nem uma grama a mais.
Entrei em parafuso? Claro!
A gente quer perder o que ganhou em 5 anos em apenas 2 meses, e o corpo não funciona assim. Só voltei a perder peso quando comecei a comer de novo (sim, precisei comer para emagrecer, corpo estranho né?) e ai com 54 dias tinha eliminado 21,7kg
Vou deixar aqui três dicas para não surtar no pós operatório quando o platô chegar:
1- Não se pese todo dia, você fica complexada, e se não emagrece tende a diminuir os alimentos (porque nos ensinaram que pra emagrecer é só fechar a boca), e parar de comer nessa fase é um tiro no pé.
2- Se alimente, por mais difícil que seja, mesmo sem fome, coma ou beba alguma coisa, seu corpo precisa entender que você esta sendo alimentada; e que não existe risco em eliminar gordura
3- Não se compare! Por exemplo , conversamos com várias pessoas que passaram o mesmo que nós, e tiveram uma perda diferente, mas não se comparar é essencial para o sucesso.
“Só vive o propósito quem aguenta o processo.”
Hoje, com quase 3 meses de cirurgia atingi 50% da minha meta médica, que seria a perda total de 51,4 kg.
Eliminei até agora o total de 26,4 kg.
As mudanças físicas são visíveis , mas a melhor parte são as mudanças na minha qualidade de vida, por exemplo:
- Não sinto dores no joelho e quadril
- Consigo respirar melhor
- Consigo dormir a noite toda
- Sentar e levantar não é mais um grande empenho
Ou seja , mesmo que a aparência seja um diferencial, a minha saúde tem sido o mais importante pra mim.
Você pode engordar depois da bariátrica?
Sim! Você pode.
É um ledo engano imaginar que após a cirurgia bariátrica, por mais restritiva que ela possa ser, não seja possível reganhar o peso.
Muitos de nós, mesmo sem realizar um protocolo correto, perdem peso gradativamente, e ao subir na balança, mês a mês, vemos o ponteiro baixar. Por isso, passamos a acreditar que os problemas com a obesidade foram definitivamente resolvidos. Após o período de um ano e meio, entramos no que os médicos chamam de platô, em que nosso peso estabiliza e permanece estável por algum tempo. Após certo período ao contrário do que se pensa, o apetite vai aumentando, assim como o foco vai se perdendo, e é quando a compulsão e os velhos hábitos podem assumir a direção novamente. Assim, o sucesso da cirurgia começa a ser perdido.
Enfim a bariátrica nos ensina a ter constância, nos obriga a tomar consciência de nossos hábitos, e se no período em que ela for mais restrita não nos adequarmos a essa realidade, o retrocesso pode se tornar real.
Corre pra conferir todas as novidades do GOSTOSAVERSO <3
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Respostas de 4
Conteúdo super informativo e necessário! Parabéns amiga! ❤️
Muitas coisas eu não sabia. Conteúdo interessante e vai ajudar muitas mulheres!
Olá tudo bem? Espero que sim 🙂
Adorei seu artigo,muito bom mesmo!
Abraços e continue assim.