Se ser ator é ser um bom mentiroso, quem precisa virar o personagem para atuar é bom ou ruim? Bem, aqui vão 5 Atores bons que, na verdade, são ruins.
Com a lista das indicações ao Oscar finalmente no ar, é inevitável nos perguntarmos a pergunta básica: o que é um Bom Ator?
Primeiramente, ser ator é uma profissão que para ser realizada com maestria se precisa de muito estudo, assim como qualquer outra. Também é importante dizer que existem infinitos jeitos de atuar e várias escolas de atuação. No audiovisual, cinema e séries, ocidental normalmente se utiliza do Sistema do Stanislavski ou o Method acting.
Resumindo bem resumido, o Stanislavski era um russo no século XIX que um dia foi lá e disse: e se a gente pegar a memória da emoção, analisarmos como fica o nosso corpo e nosso rosto, e aprendermos a imitar como a gente fica. Então, usamos essa ação em cena sem se nos machucar emocionalmente, mas conseguimos fazer cenas mais emocionantes?
Quase todo mundo resolveu entrar nessa, e um estadunidense chamado Lee Strasberg, anos depois, olhou para o Sistema e disse: entendi, legal, então é para eu sentir de verdade o que o personagem está sentindo até pensar igual a ele.
Mas essa diferença realmente importa?
Primeiramente, não é isso que o titio Stanis criou como sistema. Como consequência, assim nasceu o method acting que é muito utilizado em Hollywood e acaba, ocasionalmente, dando bastante ruim. Em outras palavras, se você interpreta alguém de bom coração não tem problema, porém o que acontece quando seu personagem é um vilão? Um assassino?
Se enxergarmos um bom ator como o melhor mentiroso do mundo então, ele deve fazer a plateia se emocionar enquanto mantém distância do personagem para não surtar. No método, o ator deve sentir de verdade sem separação dele com o personagem. Ele, então, é um empata e não um ator. Ele tem dificuldades de atuar através da memória, ele, na verdade, não é bom.
Seguindo essa lógica, muitos atores se usam dessa ferramenta como desculpa para que a atuação seja vista como um sacerdócio, portanto, uma profissão de sacrifício. No entanto, é só mais uma profissão. É uma profissão de brincar de faz de conta e convencer os outros, os outros e não você mesmo.
Sendo assim, aqui está uma lista de 5 atores considerados bons que se usam desse método tão perigoso. Evitei histórias de suic*dio, mas há um aviso de gatilho para o quinto ator.
1. Al Pacino
Começando de forma mais leve, ele é o diretor do Actor’s Studio, a escola oficial do method acting, desde 1994. Recentemente, a Lady Gaga deu a declaração de se sentir embriagada bebendo bebida falsa no set. Pois, o Al Pacino declarou, durante a gravação de Perfume de Mulher (1992) que realmente não conseguia enxergar enquanto interpretava um personagem cego.
No entanto, a anedota mais ridícula, é que enquanto se preparava para interpretar um policial que trabalhava disfarçado em Serpico (1973), o Al Pacino chegou ao cúmulo de dar voz de prisão para um cara na rua só para saber como um policial se sentia.
2. Adrien Brody
A história mais maluca do Adrien Brody me dá a impressão de que ele só é burro mesmo. Quando foi fazer o personagem pelo qual ganhou o Oscar, Szpilman em O Pianista (2003), ele perdeu um pouco de peso, mas nada assustador. O resto é que foi um pouco demais.
O personagem, é um sobrevivente do holocausto, e o Adrien queria sentir a sensação de isolamento e perda de tudo na sua vida. Inesperadamente, ele abriu mão do aluguel do apartamento onde morava, vendeu o carro, desligou a linha telefônica fixa e cancelou a linha do celular e sumiu. Pegou duas malas e o teclado e foi para a Europa.
Obviamente, a namorada dele da época terminou com ele. Mas como a Academia curte um ator que se sacrifica, ele levou a estatueta para casa.
3. Joaquin Phoenix
Para cada filme, uma história. Joaquin Phoenix já disse ser method sempre, quando está atuando em um filme ele diz ser o personagem até que as gravações terminem.
Em 2005, quando estrelou em Johnny & June, tal qual um cosplayer em evento que só é chamado pelo nome do personagem, Joaquin só aceitava ser chamado J.R. (nome de batismo de Johnny Cash).
Durante a icônica cena da prisão, o ator acabou envolvendo toda a equipe no seu método. Com o propósito de instaurar o clima que achava necessário, ele fez todos os figurantes serem prisioneiros o tempo todo, a produção tinha que agir como carcereiros, e ele ordenou inclusive que eles não alimentassem os atores que estavam no estúdio.
Ele também tem dificuldades de fingir as coisas quando se trata da parte física. Por exemplo, para o filme O Mestre (2012) ele foi a um dentista e colocou aparelhos dentários com borracha, mesmo sem precisar, para emular a mandíbula travada que o personagem tinha por conta de um acidente.
O mais perigoso, no entanto, foi quando perdeu mais de 20 kg para interpretar o Coringa, em filme homônimo, sem o acompanhamento de um médico tendo problemas de fadiga e fraqueza durante as filmagens e tendo que parar muitas vezes ao longo do dia.
4. Daniel Day-Lewis
Assim como o maluco anterior, Daniel Day-Lewis é conhecido mundialmente por ser um ator method em todos os seus trabalhos.
Ele ganhou o seu primeiro Oscar em 1989, pelo filme Meu Pé Esquerdo, sobre um pintor com paralisia cerebral que só conseguia mexer o pé esquerdo. Daniel acabou fraturando três costelas porque se negava a agir como se não tivesse paralisia. Era carregado no set e só aceitava ser alimentado na boca.
Entre morar em cenários réplicas de vilas coloniais para viver sem energia e água encanada durante as filmagens e apenas mandar mensagens para os demais atores como se fosse o Abraham Lincoln, em um de seus filmes o ator já chegou a rejeitar, entre tomadas, os casacos modernos que protegem melhor do frio e acabou tendo pneumonia durante as gravações de As Gangues de Nova York (2002).
O ator em se aposentou em 2017 da profissão. A declaração dele era de que ele não queria mais se entregar como se entregava a outro trabalho, mas que não sabia outro jeito de ser ator.
Se ele tivesse estudado mais e visto a atuação para além de como Hollywood se acostumou a fazer, talvez ainda estivesse atuando.
5. Marlon Brando
Marlon Brando é um nome grande. É desses nomes de ator dos quais você já ouviu falar mesmo sem ter visto um único filme. Ele é de uma das primeiras turmas de method acting, estudou com Stella Adler, conhecida por estabelecer o método. Inclusive, muitos o consideram como aquele que estabeleceu o método como parte integral de Hollywood.
Marlon Brando, para mim, não é maluco como outros atores dessa lista. Ele não é patético. Sendo bem clara, ele é um vilão, ele é uma pessoa ruim.
Para o filme Espíritos Indômitos (1950), sobre um ex-combatente paraplégico, o ator ficou um mês acamado em um hospital de veteranos verdadeiramente sem sair da cama. Ele já chegou inclusive a reescrever um filme inteiro por descordar do roteiro. Por se achar verdadeiramente o personagem. Ele acreditava que só ele entendia o personagem de verdade.
No entanto, Marlon Brando está por último nessa lista por protagonizar um momento horroroso na história do cinema diretamente ligado à necessidade do método de fazer as pessoas sentirem de verdade em vez de fingirem o sentimento.
GATILHO DE ABUSO E NÃO CONSENTIMENTO DE CENA DE CONTEÚDO SEXU4L. FIM DO GATILHO
O Último Tango em Paris (1972) é, sem dúvidas, um dos títulos mais conhecidos na filmografia de Brando. O filme, que envelheceu muito mal e não seria feito hoje em dia com o mesmo roteiro, trata de um homem de quase 50 anos e uma mulher de 19 anos onde ele “mostra o mundo” para ela e muitas cenas tratam desse relacionamento como se ela não estivesse sabendo muito o que estava acontecendo e topando enquanto as coisas rolavam.
A cena mais icônica é uma onde a personagem está deitada no chão enquanto o personagem de Brando a lubrifica com manteiga e então faz sex* an*l com ela. É uma cena de consentimento dúbio feita sem consentimento.
O ator, juntamente do diretor, tiveram ideia para a cena que não estava no roteiro e a atriz só foi avisada que ela aconteceria no dia de filmagem. Ela era muito jovem e nem sabia ter o poder de dizer não naquele momento. Em 2007, ao contar a história, Maria Schneider disse que as lágrimas eram de verdade e ela se sentiu violada.
Por mais que não tenha havido o ato completo, em cenas como essa há muito contato físico entre os atores. Por isso, são cenas combinadas em todos os seus detalhes. Se conversa sobre onde eles sentem confortáveis de serem tocados e, apesar de ter um travesseiro separando as partes íntimas, em casos onde se quer mostrar mais fortemente o movimento dos quadris.
Ao contrário do que deve ser feito, ela não foi avisada, ela não fez parte da conversa do que aconteceria na cena. Bertolucci declarou em entrevista em 2013, depois da morte da atriz em 2011, que queria capturar com a câmera a atriz sendo humilhada e não fingindo humilhação.
FIM DO GATILHO
Esse caso é, sem dúvidas, o extremo do method acting. Um abuso justificado com a vontade de captar emoções reais. O ator, dentro da cultura que permeia esse método, sente a necessidade de se desprender da sua humanidade, da sua pessoa em favor da arte. No mínimo, isso não é saudável, e no máximo não sabemos até onde as pessoas irão se continuarem acreditando que essa é a única forma de atuar.
As grandes premiações costumam premiar atores assim, todos nessa lista são ganhadores de Oscar. Esses prêmios validam essas atitudes, perpetuam as mutilações e abusos. Existem outras formas de ser ator e o method me parece um atalho para aqueles que não conseguem atuar de verdade e que também caíram no conto romântico de que ator tem que sofrer.
Quem tem que se emocionar e sentir a obra de verdade é o público. A catarse deve sempre ser de quem assiste.
Quem você considera um bom ator/uma boa atriz?
Assista ao vídeo que fizemos sobre o mesmo tema com outros exemplos de atores.
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