Você já sentiu culpa no sexo?

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O sexo é a coisa mais comum do mundo, sem ele não existe vida e essas coisas, mas você já sentiu culpa no sexo? Culpa por transar?

Infelizmente, na nossa sociedade o sexo é ainda um dos maiores tabus. Portanto, falar sobre isso é um problema tão grande que se cria um misticismo ao redor do assunto: ele é ao mesmo tempo a coisa mais importante e a coisa mais errada que você pode fazer.

Resolvi, então, contar um pouco da história da minha relação com o sexo.


A origem da culpa.

Antes de mais nada, aqui não é a Laura. Mas se você quiser saber um pouco da história dela, ela está falando sobre a trajetória dela com o BDSM aqui no blog. Vale a pena conferir.

Como no caso de muitas pessoas, no meu caso a culpa em relação ao sexo tem uma fonte bem direta: eu cresci em um ambiente familiar muito religioso e com aquela coisa de “eu escolhi esperar”.

Lembro de um encontro com outros jovens e adolescentes onde os líderes foram demonstrar as consequências do sexo. Eles pegaram duas folhas de papel e colaram elas uma na outra e depois tentaram separar. Obviamente, não deu. Quanto mais eles forçavam mais o papel rasgava. Depois do processo, nenhuma das duas folhas de papel era mais a mesma. Segundo eles, era isso que acontecia quando você transava: você se conectava com uma pessoa para sempre.

Ficar de dar uns beijos também não podia. Masturbação era errado porque podia viciar e você não sentiria prazer quando estivesse com o seu marido hipotético do futuro.

(Eventualmente várias colegas da minha idade da igreja apareceram grávidas na adolescência. É de se imaginar que essa doutrinação não adiantou muito, né?)


Minhas primeiras experiências.

Para que tudo fique bem claro, eu era uma adolescente bem esquisita. Eu era nerd e viciada em seriados, antes da era dos serviços de streaming. A galera assistia Rebelde, enquanto eu estava fazendo maratona de Arquivo X. Fora isso, eu era pobre e morava na periferia, mas era bolsista em um colégio particular. E eu também alisava meu cabelo e o visual não funcionou muito pra mim.

Quando eu beijei na boca pela primeira vez eu tinha quinze anos. E enquanto minhas amigas de escola, também evangélicas, ficavam comentando de meninos que gostavam, eu odiava o assunto. E além de tudo isso, eu também sou bissexual.

Eu lembro de orar, chorando, que se gostar de meninas era errado, que Deus tirasse de mim esse sentimento. (Hoje eu sou casada, e estou junto da minha esposa há quase 10 anos, mas estou adiantando um pouco a história.)

Quando eu tinha 16 anos eu me apaixonei. Perdidamente. Como eu era adolescente, toda a história durou um mês. Nos conhecemos na aula de teatro, ficamos, um dia cabulamos aula para ficar bebendo com uns amigos eu fui para a casa dele (eu estava BEM bêbada) e eu perdi minha virgindade assim.

O estranho é que eu não senti culpa. Eu queria muito, eu queria desesperadamente. Mas o mundo ao meu redor queria que eu sentisse culpa.


Slut-shaming.

O problema é que depois do acontecido todas as minhas amigas pararam de falar comigo, eu também descobri que nesse um mês ele ficou com outras pessoas quase todos os dias. E uns anos depois ficou subentendido que ele tinha ficado comigo por causa de uma aposta.

Eu parecia estar vivendo um filme de adolescente gringo. Havia um tópico na comunidade do Orkut da minha escola exclusivamente pra falar mal e fazer piadas a meu respeito. O tópico tinha mais de mil comentários quando os moderadores finalmente o deletaram.

Eu tive um susto achando que tinha engravidado e minha mãe acabou descobrindo. Também descobriu que eu tinha perdido minha virgindade quando invadiu minha privacidade e leu minhas conversas do MSN. Minha mãe não é uma pessoa acolhedora, para dizer o mínimo. Me chamar de “puta” foi a coisa mais leve que ela disse naquela conversa que tivemos.

Eu estava sem amigas e sem nenhum acolhimento em lugar nenhum.

Lembro que na época uma conhecida estava tendo problemas com o namorado — que era meu amigo — e eu eu disse pra ela que se ela estivesse cansada das brigas deles (que era constantes), seria melhor que ela terminasse com ele. Esse meu amigo  me humilhou, me chamou de aberração (ele era um dos poucos que sabia da minha sexualidade) e me criticou por ter dado pro moleque com quem eu estava ficando há apenas uma semana.


Mas e depois?

Quando eu fiquei com outro menino, meses depois, apenas uns beijos, me senti tão mal que parecia que eu ia morrer. Como se eu estivesse errada em querer beijar, errada porque eu não queria só beijar.

Foi então que eu fui falar disso para um amigo meu e ele pegou no meu peito enquanto eu falava e me agarrou. Uns dias depois quando eu fui para casa dele para transarmos, eu senti que fui para lá coagida. Se eu já tinha transado antes, agora eu devia transar sempre, né?

E além disso, ele não queria que ninguém soubesse que tínhamos ficado. Como se ficar comigo, fosse um problema.

Eu passei anos sem transar, beijar, nada.

Nenhuma das vezes que eu transei, eu senti prazer. Eu queria muito, mas era como se tudo estivesse errado e eu nem devesse estar ali. Foi assim que passei anos sem nada nem ninguém. Eu nem gostava de me masturbar, para ser bem sincera.

Mas daí eu conheci minha esposa, em 2013. Eu nunca nem tinha beijado outra mulher, apesar de saber que eu era bi porque essas coisas você não precisa testar pra ter certeza. Quando minha mãe descobriu foi outro pesadelo.

E mesmo estando com uma pessoa que eu amava, e amo, muito eu não sentia prazer pleno no sexo. Eu sentia quase como se eu estivesse incomodando por querer sentir prazer, como se qualquer coisa que eu quisesse fosse exigir demais.


Bônus antes de eu continuar.

Quando eu parei de falar com meu melhor amigo imbecil, minha mãe ficou sem entender e eu não quis explicar o porquê termos parado de nos falar. Foi quando, em 2013, minha mãe encontrou com ele num shopping.

Minha mãe, então, resolveu perguntar por que paramos de nos falar. E ele inventou que: tinha me pego na cama com dois homens, e que em uma das festas de amigos nossos eu estava me esfregando e beijando todo mundo e ele não conseguia mais ser meu amigo.

Eu, a pessoa que todas às vezes que fiquei com alguém acabei me ferrando. Que só tinha beijado quatro pessoas na minha vida (e uma delas tinha sido forçada). Essa pessoa foi a que ele descreveu como frequentadora de suruba.

O slut-shaming não apenas te persegue e tira o controle da sua própria narrativa, como faz com que se crie um mito ao seu redor que alimenta o monstro que te transforma numa criatura pária do seu grupo social.


O inferno são os outros.

Com o passar dos anos, pós-pandemia, eu e minha esposa resolvemos abrir o relacionamento. A verdade é que já tínhamos falado sobre isso várias vezes, mas eu sentia que não conseguiria transar casualmente com as pessoas. Que era algo que me faria mal.

Daí eu baixei o Tinder, conversei com uns carinhas e saí com um deles. O sexo foi terrível. Eu saí da casa dele me sentindo burra, me sentindo suja (não aconteceu nada grave, só foi ruim mesmo, ele gozou rápido e não se preocupou comigo, essas coisas) e chegando em casa fui contar para a minha esposa como tinha sido enquanto eu tentava entender por que eu me sentia tão mal.

Eu fui porque eu quis ir, eu dei porque eu estava com vontade. O que estava acontecendo?

Entre um detalhe e outro que eu falava, sobre como a casa dele estava bagunçada e ele resolveu colocar minha playlist de rock indie que não dava clima nenhum, eu entendi porque eu não conseguia sentir prazer.

Eu não sentia prazer porque eu sentia culpa.

Porque eu passei uma vida sendo perseguida por gente pequena, por gente preconceituosa, pelo simples fato de ser alguém que quer transar. Mas a não ser que você esteja no espectro assexual, você quer transar. Só que eu tinha sido escolhida como a perseguida.

E com essa perseguição, somada à minha criação que tratava sexo como algo mitológico, sagrado e exclusivo, eu acabei colocando no sexo esse peso sem ele ser meu.

O peso não era meu, o preconceito não era meu, era dos outros.


Quem é você?

O ponto dessa história toda é esse. De onde vem a sua culpa?

Se você sentir que o sexo é uma obrigação e que na verdade não é algo que faça diferença na sua vida ou que seja algo que você procure naturalmente, talvez você seja assexual E TÁ TUDO BEM.

Mas, será que a culpa que você sente é sua? Porque a minha era a voz da minha mãe me chamando de puta e eu nunca tinha percebido. Era um tópico de mil comentários de pessoas diminuindo a minha aparência e me dando a impressão que talvez eu não devesse me sentir à vontade quando alguém me desejasse.

A minha culpa era a imagem dos dois papéis grudados tentando se separar sem rasgar. A minha culpa não tinha absolutamente nada a ver com como eu enxergava o sexo, tinha tudo a ver com como os outros enxergaram o sexo em mim toda a minha vida.

Se você sente culpa na masturbação, tente lembrar de quando você ouviu falar do assunto a primeira vez.

E façam terapia, mas primeiramente tentem fazer o exercício com você mesma de descobrir como se construiu a sua relação com o sexo.

O seu sentimento de culpa provavelmente nem é seu.

A vez que eu transei depois dessa conversa, foi a melhor experiência que eu tive até então.

 

Depois que você transa, como você se sente?

 

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🥵 Leia também: Você se sente confortável em falar TUDO com as suas amigas?

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